segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Aimar é um adjetivo


Quando comecei a ler nos jornais a possível vinda de Pablo Aimar para o Sport Lisboa e Benfica, sorri. Não acredito, pensei. Mais uma história inventada. Passado alguns dias a história inventada passou a livro de contos de fadas, acabadinho de abrir e com muitas páginas em branco. Seria possível? Pablo "El Mago" Aimar acabava de assinar pelo Sport Lisboa e Benfica. Seria ele capaz de fazer no meu clube todas as magias que havia feito noutros clubes?
Quando Pablo, permitam-me que o trate assim, começou a jogar pelo Sport Lisboa e Benfica, cedo percebi que se tratava muito mais do que um grande jogador de futebol. Pablo era, e continua a ser, um senhor que percebe as coisas antes destas acontecerem, consegue ver espaços e fintas onde ninguém as imagina. Quando digo chuta e Aimar não chuta, sorrio. Se não chutou, foi porque vai haver magia de outra forma... Pablo é assim: mágico a fintar, a chutar, a assistir, até a falar com a imprensa ou a apontar com o dedo o sítio para onde o colega deve colocar a bola. Penso para comigo que a única explicação possível é que Pablo consiga parar o tempo, fazê-lo avançar para ver o que é que aconteceria e volte atrás para decidir segundo o desfecho que considerou melhor.
Não raras vezes Pablo faz um passe e a bola vai fora. Mais de 99% dessas mesmas vezes teria sido um passe espetacular caso o colega de equipa tivesse feito o que devia ter feito. Imagino como deve ser difícil jogar com um jogador que exige tanta concentração e inteligência quando a bola toca o mago. Quando um colega o consegue acompanhar no raciocínio, nascem as jogadas de génio como aquela em que Pablo faz a rabona mais bonita que alguma vez vi. Suazo compreendeu e teve lugar daquelas jogadas que os deuses do futebol passam vezes sem conta na sua televisão celeste. Mas nem sempre Pablo apela à inteligência especial daqueles que jogam com ele. De vez em quando basta apenas que os colegas não se coloquem à sua frente como aquando daquele golo em Paços de Ferreira em que Pablo pega na bola, coloca desta vez o tempo em slow motion e vai fintando adversário atrás de adversário, até fazer amor novamente com a bola, fazendo-a atingir o êxtase com o aninhar nas redes. Às vezes esse êxtase não chega quando queremos, chega quando Pablo quer, como naquele lance em que senta Patrício e quando já estamos todos de mãos na cabeça a pensar se Pablo conseguirá ou não chegar à bola, esta decide abrandar, pois não quer ser menos do que as outras, e também quer ter o prazer final com o último toque do mago para lá da linha de golo. É golo gritam muitos benfiquistas, é magia gritam outros, é Pablo Aimar pensam todos! Tantas e tantas vezes que basta um simples passe de Pablo para me fazer sorrir, uma paragem de bola ou uma finta que desequilibra o adversário. Com Pablo em campo sou um adepto fácil. Passo a vida a sorrir e a pensar como é especial ter Pablo dentro de campo, a honrar o manto sagrado. Dou por mim a acrescentar que fora de campo também é muito bom ter Pablo a falar. Ouvi-lo falar do Sport Lisboa e Benfica é sinal que a mística existe e pode ser entendida mesmo para quem não conhecia a dimensão que o Benfica tinha. Claro que não é para todos, apenas está ao alcance daqueles que o vivem e o sentem de uma forma simples e natural. Como Aimar. Nele, tudo parece simples e natural, tudo parece fazer sentido.
Certa vez um amigo dizia-me que se tínhamos lá os Aimares e outros que tais, porque é que não ganhávamos sempre... nunca vi tantos erros numa frase. Aimares?? Outros que tais?? Quem me dera ter mais do que um Aimar, mas tudo o que é especial, é único. O plural de Aimar não existe. Existe apenas um, Pablo. Aquele que pára o tempo quando quer, perscruta os corações dos benfiquistas, lhes diz o que eles querem ouvir e lhes dá o que eles querem ver. Aquele que me fez desistir de procurar novos adjetivos para as jogadas que faz e render-me à evidência de ter que inventar Aimar como um adjetivo.

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