Quando comecei a ler nos jornais a possível vinda de Pablo
Aimar para o Sport Lisboa e Benfica, sorri. Não acredito, pensei. Mais uma
história inventada. Passado alguns dias a história inventada passou a livro de
contos de fadas, acabadinho de abrir e com muitas páginas em branco. Seria
possível? Pablo "El Mago" Aimar acabava de assinar pelo Sport Lisboa
e Benfica. Seria ele capaz de fazer no meu clube todas as magias que havia
feito noutros clubes?
Quando Pablo, permitam-me que o trate assim, começou a jogar
pelo Sport Lisboa e Benfica, cedo percebi que se tratava muito mais do que um
grande jogador de futebol. Pablo era, e continua a ser, um senhor que percebe
as coisas antes destas acontecerem, consegue ver espaços e fintas onde ninguém
as imagina. Quando digo chuta e Aimar não chuta, sorrio. Se não chutou, foi
porque vai haver magia de outra forma... Pablo é assim: mágico a fintar, a
chutar, a assistir, até a falar com a imprensa ou a apontar com o dedo o sítio
para onde o colega deve colocar a bola. Penso para comigo que a única
explicação possível é que Pablo consiga parar o tempo, fazê-lo avançar para ver
o que é que aconteceria e volte atrás para decidir segundo o desfecho que
considerou melhor.
Não raras vezes Pablo faz um passe e a bola vai fora. Mais
de 99% dessas mesmas vezes teria sido um passe espetacular caso o colega de
equipa tivesse feito o que devia ter feito. Imagino como deve ser difícil jogar
com um jogador que exige tanta concentração e inteligência quando a bola toca o
mago. Quando um colega o consegue acompanhar no raciocínio, nascem as jogadas
de génio como aquela em que Pablo faz a rabona mais bonita que alguma vez vi.
Suazo compreendeu e teve lugar daquelas jogadas que os deuses do futebol passam
vezes sem conta na sua televisão celeste. Mas nem sempre Pablo apela à
inteligência especial daqueles que jogam com ele. De vez em quando basta apenas
que os colegas não se coloquem à sua frente como aquando daquele golo em Paços
de Ferreira em que Pablo pega na bola, coloca desta vez o tempo em slow motion
e vai fintando adversário atrás de adversário, até fazer amor novamente com a
bola, fazendo-a atingir o êxtase com o aninhar nas redes. Às vezes esse êxtase não
chega quando queremos, chega quando Pablo quer, como naquele lance em que senta
Patrício e quando já estamos todos de mãos na cabeça a pensar se Pablo
conseguirá ou não chegar à bola, esta decide abrandar, pois não quer ser menos
do que as outras, e também quer ter o prazer final com o último toque do mago
para lá da linha de golo. É golo gritam muitos benfiquistas, é magia gritam
outros, é Pablo Aimar pensam todos! Tantas e tantas vezes que basta um simples
passe de Pablo para me fazer sorrir, uma paragem de bola ou uma finta que desequilibra
o adversário. Com Pablo em campo sou um adepto fácil. Passo a vida a sorrir e a
pensar como é especial ter Pablo dentro de campo, a honrar o manto sagrado. Dou
por mim a acrescentar que fora de campo também é muito bom ter Pablo a falar.
Ouvi-lo falar do Sport Lisboa e Benfica é sinal que a mística existe e pode ser
entendida mesmo para quem não conhecia a dimensão que o Benfica tinha. Claro
que não é para todos, apenas está ao alcance daqueles que o vivem e o sentem de
uma forma simples e natural. Como Aimar. Nele, tudo parece simples e natural,
tudo parece fazer sentido.
Certa vez um amigo dizia-me que se tínhamos lá os Aimares e
outros que tais, porque é que não ganhávamos sempre... nunca vi tantos erros
numa frase. Aimares?? Outros que tais?? Quem me dera ter mais do que um Aimar,
mas tudo o que é especial, é único. O plural de Aimar não existe. Existe apenas
um, Pablo. Aquele que pára o tempo quando quer, perscruta os corações dos
benfiquistas, lhes diz o que eles querem ouvir e lhes dá o que eles querem ver.
Aquele que me fez desistir de procurar novos adjetivos para as jogadas que faz
e render-me à evidência de ter que inventar Aimar como um adjetivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário