terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A maior surpresa de todas

Já há muito tempo que não era surpreendido por um jogador como o fui no Restelo. Victor Lindelof alegrou o meu dia e fez-me crer que afinal temos um central de nível mundial. Para quem pense que posso estar a cair sem querer no exagero, desengane-se. O exagero é propositado e creio que adequado.
Lindelof erra em alguns lances, e continuará a errar, mas os princípios que regem as suas decisões estão a um nível que poucos conseguem atingir, muito menos os centrais com 21 anos.

Sem bola
Bola no meio-campo ofensivo do Benfica recuperada pelo Belenenses e Lindelof imediatamente a controlar a profundidade; bola coberta e Lindelof a subir e a mandar subir. Bola perto da grande área contrária e Lindelof era o único defesa do SLB que reagia ao que se passava no outro lado - bola muito longe? Nem pensar, esteja a bola onde estiver podemos adequar o nosso posicionamento. Concentração a um nível TOP!
Contenção e cobertura muito próximas da perfeição e sempre a ter noção do contexto (subir, descer, pressionar, recuar, atacar a bola...).

Entrada para a 2ªparte
Após o intervalo é normal os jogadores começarem a ativar os músculos para o início da partida; enquanto os colegas estavam na amena cavaqueira, Lindelof ativava os músculos com uma intensidade demonstrativa do seu querer e concentração. Era o único! Objetivo para além do muscular: aumentar os índices de concentração.

Com bola
Com bola foi o que mais me surpreendeu no central sueco: risco zero em tudo o que faz, sem oponente progride para fixar e soltar, com oponente solta em quem está só ou joga na cobertura quando está apertado. Para além disto aponta o caminho para os colegas mandando-os avançar ou recuar consoante o seu posicionamento. Exemplo disto é o golo contra o FCP (a partir do minuto 3:22 no vídeo em baixo)



No golo contra o Paços, Lindelof poderá ser para muitos o principal culpado (vídeo em baixo)

http://videos.sapo.pt/N7Fges5bvPSkz931CuoA

Para mim, podendo ter feito melhor, Lindelof fez num primeiro momento o que me parece adequado: impede a progressão do adversário para a baliza e fica à espera que surja nova contenção de um colega quando Jota progride paralelamente à linha final. Essa contenção não surge e Jota faz um espetacular remate que dá golo. Nem sempre o que parece ser a melhor atitude produz os melhores resultados, mas são estes (bons) comportamentos que farão atingir a médio prazo os melhores resultados.

Lindelof é de longe, neste momento, o melhor central do Sport Lisboa e Benfica e só alguém muito burro o impedirá de continuar a sua progressão a titular. Aliás, é o único central (Luisão incluído) que sabe o que fazer com bola, o que numa equipa como o Benfica faz toda a diferença.
Perder o lugar para Lisandro López não seria só estúpido, seria mais do que inacreditável... Lindelof é, em todos os aspetos mais importantes, muito superior a Lisandro. Resta-nos aguardar, que também nisto Rui Vitória consiga tomar a decisão certa.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Orgulhosamente errado

Desde há 2 meses que quero escrever, mas ainda não o tinha conseguido fazer. Ao contrário das minhas expetativas, encontramo-nos vivos na luta pelo título de Campeão Nacional. Tri neste caso.
O que mudou? Muita coisa e em especial mudou o essencial: o nº de oportunidades claras de golo. O Benfica deixou de permitir mais oportunidades claras de golo ao adversário do que aquelas de que dispunha. Sim, isto acontecia...! Este é e será sempre quanto a mim o melhor indicador para atestar a validade e o grau de maturação do processo. Então o processo não estava maturado na altura e agora já está? Não. O processo escolhido mudou abruptamente. Não sei o que levou a tal alteração mas que a mudança existiu, existiu. A forma de defender e de atacar são apenas vestigialmente semelhantes ao que eram à uns meses (permanece o intuito de ter a bola e pouco mais...).
Ofensivamente a equipa está a dar muito mais linhas de passe ao portador da bola (ao invés de se afastarem dele e o deixarem resolver individualmente) e deixou de fazer os 60 cruzamentos que fazia por jogo (devemos andar nos 20 agora, o que sendo muito, é uma  redução substancial), procurando muito mais o jogo interior (o que favorece a criação de oportunidades de golo porque, pasme-se(!), a baliza está no meio...). As transições ofensivas estão muito melhores, sendo que não devia ser este o momento mais forte de uma equipa que ataca tanto, mas provavelmente acabará por o ser - mas que nos jogos grandes ainda deu muito pouco (só em Madrid).
Defensivamente a equipa não tem estado tão exposta, fruto da pressão (+/-) que consegue fazer mais à frente no terreno. Mesmo quando se expõe, os posicionamentos estão muito melhores e já não vemos por exemplo 20 metros a separar os centrais.

A que é que se devem estas melhorias?
Infelizmente, parece-me que as melhorias derivam mais dos atores do que do encenador. Jogar com Samaris, Gaitan, Pizzi, Jonas e uns furos abaixo Renato e Mitroglou faz com que o estilo de jogo tenha que obrigatoriamente ser um estilo mais inteligente. Há trabalho (claro) de Rui Vitória, mas os maiores frutos parece-me que advêm da qualidade individual dos artistas (o que até nisto existe muito mérito de RV).

Está tudo bem?
Claro que não, muito longe disso, mas dá perfeitamente para ter orgulho no futebol que a equipa tem demonstrado. Muito ainda para melhorar, mas com uma boa base para suportar o que falta construir. Atenção(!!!!) faltam construir ainda muitos princípios! A defesa não cria uma linha de cobertura adequada (2º golo FCP por ex.), a contenção nem sempre é bem feita, existem algumas vezes em que temos um espaço muito grande entrelinhas e mesmo ainda dentro do mesmo setor (se bem que me parece que tem vindo a desaparecer a caça ao homem). Ofensivamente, muito mas muito melhor - aqui a maior diferença de todas: abandonámos as 80 ave-marias para a área que fazíamos por jogo...

SLB-FCP
O que se passou neste jogo foi futebol. Devia ter ficado prai 4-1 e ficou 1-2. Oportunidades em catadupa falhadas e permeabilidade defensiva nos golos (principalmente no segundo) permitiram a um dragão sem chama alcançar a vitória quase imerecida (porque em última instância o mérito é sempre de quem o alcança). Não retira em nada a confiança que sentia na luta pelo título, apenas nos retirou 3 pontos - vide que se tivéssemos "apenas" feito a nossa obrigação de ganharmos os jogos em casa contra os grandes não estaríamos 3 pontos atrás do SCP mas estaríamos 6 à frente...

Jonas
Para quem acha que Jonas nos jogos grandes devia sair... sugiro que comam um cagalhãozito ao pequeno-almoço para justificar a saída de merda pelo orifício errado.

A Surpresa
Deixando já a promessa de tentativa de um novo post sobre este assunto, a grande surpresa (para além de Renato Sanches que tem vindo a melhorar bastante) é sem dúvida a descoberta do melhor central do plantel.

Vamos ser Tricampeões?
Não sei, mas pelo menos vamos estar na luta. Tem que ser jogo-a-jogo e temos que ir pontuar a Alvalade. Acredito que o podemos ser e tenho a certeza que se nós não o formos ninguém mais o será.